sábado, 23 de maio de 2009

"A Lenda de Narciso"




Sugestão de Leitura: "Narciso", Sofia Belo (Ed. Difel)
Prémio de Revelação APEL/IPLB 1994 de Literatura para a Infância e Juventude

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Definições do Conceito de Literatura para a Infância e Juventude

Esta noção tem sido problematizada ao longo dos tempos, por diversos autores. Eis alguns exemplos:

Cecília Meireles (1951): “São as crianças, na verdade, que o delimitam, com a sua preferência. Costuma-se classificar como Literatura Infantil o que para elas se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar o que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma Literatura Infantil a priori mas a posteriori. Mais do que literatura infantil existem "livros para crianças".

Jean Perrot (1975): “Alguns autores salientam a importância do conceito de «prazer do texto» na literatura infantil e juvenil e propõem uma visão bastante alargada desse domínio, com inclusão dos multimedia.”

João David Pinto Correia (1978): "Na literatura infantil, o produtor vai preocupar-se com fomentar a criatividade na criança: as histórias aproveitam não só o fantástico, o maravilhoso (as fadas, os gigantes, os anões, etc.), como vão explorar os aspectos mais poéticos, inéditos de pormenor, do ambiente em que vive a criança, ou da natureza exótica que facilitem um maior contacto com a realidade distante (no espaço e no tempo).
Por seu lado a literatura juvenil consiste fundamentalmente em práticas literárias de "imaginação" que
podemos caracterizar como próximas das "literatura de massas".

Mercedez Manzano (1985): “Há quem cite definições de vários escritores e na sua experiência vivida com crianças, para apontar três elementos fundamentais na definição deste conceito literatura para a infância e juventude:
- simplicidade criadora
- audácia poética
- comunicação adequada.”

Denise Escarpit (1988): “Outros criticam certas posições dogmáticas que fazem o livro, tanto a imagem como o texto, estar dependente da apreciação do adulto, considerando que a questão da apreciação tem variado conforme as épocas e os modos culturais. Regra geral mantém-se ainda, e infelizmente, a atitude dirigista e dogmática dos adultos que encaram a literatura para crianças como um terreno onde é aceitável decretar funções e modos de utilização.”

Juan Cervera (1991): “Reflectindo sobre o facto de a expressão "literatura infantil" efectuar a junção de dois termos ambíguos, há autores que propõem integrar na literatura infantil "toda a produção que tenha como veículo a palavra com um toque artístico ou criativo e como destinatário a criança".

Manuela Barreto Nunes (2007): “O que é? Literatura destinada a um público de fronteira:
– Ainda ligado à literatura infantil mas já atraído pela literatura para adultos;
– Heterogeneidade: alguns são já verdadeiros leitores, outros amadurecem mais lentamente, outros estão desmotivados para a leitura.
– Que faixa etária abrange? Pré-adolescentes e adolescentes, entre os 10 e os 16 anos.
– Quais são os objectivos?
a) Distrair;
b) Educar.”

* Documento debatido numa das sessões de trabalho do Clube de Leitura "Ler Por Prazer".

"Livro", Luísa Ducla Soares


Livro
um amigo
para falar comigo
um navio
para viajar
um jardim
para brincar
uma escola
para levar
debaixo do braço.
Livro
um abraço
para além do tempo
e do espaço.

Soares, Luísa Ducla - Poemas da Mentira e da Verdade. Lisboa: Ed. Livros Horizonte, 2005.

"O Livro Extravagante", José Jorge Letria


Era um livro esquisito,
feito com rimas esquinadas
e palavras estonteadas
desenhadas nas lombadas.
Lia-se todo ao contrário,
mesmo fora do horário,
à margem do calendário,
e as rimas que guardava,
mesmo sem terem sentido,
logo ficavam no ouvido,
com um som muito vivo,
colado com adesivo.
Era um livro extravagante,
onde até um lagostim
rimava com lavagante.

Letria, José Jorge - Alicate, Bonifrate e Versos com Remate. Porto: Ed. Asa, 2002.

"As árvores e os livros", Jorge Sousa Braga


As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Braga, Jorge Sousa - Herbário. Lisboa: Assírio & Alvim, 2002.

"A ilha do tesouro", Álvaro Magalhães


O meu tesouro é um livro
de folhas gastas, dobradas,
onde ainda brilha o ouro
de palavras encantadas:
guinéus, luíses, dobrões.

Se o abro, à noite, no quarto,
levanta-se um vento leve
que enfuna os lençóis da cama;
cheira a sal, ouvem-se as ondas,
salpicos de espuma volteiam no ar.
Mas já não voam as palavras que voavam
e me arrastavam prò o mar,
o grande mar que é muitos e só um.
Por mais que escute já não ouço
a canção dos marinheiros:
Dez homens em cima da mala do morto...
Iou, ou, ou, e uma garrafa de rum...
Antigamente era outra essa viagem
e era eu o rapaz da estalagem.
Escondido na barrica das maçãs,
escutava o taque-taque
do homem da perna só
e as conversas dos piratas
que passavam no convés:
Com quarenta homens nos
fizemos ao mar,
mas só um, afinal,
se conseguiu salvar.
(...)

Magalhães, Álvaro O Limpa Palavras e Outros Poemas, Porto: Ed. Asa, 2003.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

"As Pessoas Sensíveis", Sophia de Mello Breyner Andresen


As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas,
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

“Ganharás o pão com o suor do teu rosto”
Assim nos foi imposto
E não:“Com o suor dos outros ganharás o pão.”

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem


Sophia de Mello Breyner Andresen

Recolha colectiva em articulação com Língua Portuguesa