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Luís, homem estranho
Luís, homem estranho, que pelo verbo
és, mais que amado, o próprio amor
latejante, esquecido, revoltado,
submisso, renascente, reflorindo
em cem mil corações multiplicado.
És a linguagem. Dor particular
deixa de existir para fazer-se
dar de todos os homens, musical,
na voz de órfico acento, peregrina.
Que pássaro lascivo se intercala
no queixume subtil de tua estrofe
e não se sabe mais se é dor, delicia,
e espinho, afago, e morte, renascença?
Volúpia de gemer, e do gemido
destilar a canção consoladora
a quantos de consolo careciam
e jamais a fariam por si mesmos ?
(Amaldiçoado dia de nascer
que em bênçãos para nós se converteu!)
já tenho uma palavra pré-escrita
que tudo exprime quanto em mim se turva.
Pelos antigos e pelos vindouros,
foste discurso de geral amor,
Camões – oh som de vida ressoando
em cada tua sílaba fremente
de amor e guerra e sonho entrelaçados!
Carlos Drummond de Andrade
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