quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Eu e os Outros"

Um dos grandes lemas modernos diz-nos para sermos nós mesmos. Iguaizinhos a nós próprios. Sendo um lema que nos conduz à autenticidade, à auto-estima e à liberdade interior, pode, também, conduzir-nos a uma forma de egoísmo apurada. E consentida.
Como conjugar esta máxima de sermos sempre verdadeiros, iguais a nós próprios e sem concessões ao essencial, com a vida em família, o mundo do trabalho e a performance pessoal? A resposta é difícil e implica um empenho profundo na procura do melhor em nós e nos outros, assim como uma aposta constante na realização do bem.
Acontece que os outros são, ao mesmo tempo, uma necessidade e um obstáculo ao nosso desenvolvimento pessoal. A nossa tomada de consciência e à nossa noção de valores. Os outros estão lá para nos ajudar a crescer mas, também, para nos provocar o confronto, para entrar em conflito, para nos mostrar que somos todos diferentes e que a nossa realidade quase nunca coincide com a deles.
Tão difícil como dar uma resposta a esta questão do egoísmo é encontrar o justo equilíbrio entre o individual e o colectivo. Entre aquilo que nos pertence e aquilo que devemos partilhar. A primeira certeza que me ocorre neste capítulo é aquela que remete para um tempo que é só nosso, e um tempo que também é dos outros. Ou, por palavras mais simples, um tempo que todos devemos gerir de forma mais consciente.



Defender o nosso tempo e o nosso território não é um acto de egoísmo, muito pelo contrário, é o primeiro passo para nos concentrarmos no essencial. Aprender a dizer não, tão-pouco é sinónimo de egocentrismo. Dizer um «não» na altura certa é sinal de grande maturidade e liberdade interior. Um «não» dito na hora e circunstância adequadas ajuda a crescer quem o diz e quem o ouve.
O individualismo, a falta de solidariedade e a presunção de superioridade nunca podem ser o resultado deste imperativo moderno de «sermos nós próprios». A verdade, a autenticidade e a eficácia sim, são os objectivos deste ideal.
Guardar um tempo para nós, para nos ouvirmos e sentirmos, para dar voz à nossa consciência e espaço para medir os nossos actos é, assim, o primeiro passo para sermos iguais a nós mesmos. Os outros passos surgem naturalmente, na sequência deste primeiro e ajudam a encontrar o caminho mais certo. O caminho que é meu mas também pode ser dos outros, o caminho que nos leva a ser únicos e diferentes no mundo mas não nos afasta do mundo dos outros.

Laurinda Alves,“Xis ideias para pensar”,pp.22-23

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