segunda-feira, 1 de junho de 2009

HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA – PERIODIZAÇÃO LITERÁRIA (ABREVIADA) I

LITERATURA MEDIEVAL (SÉCULO XII A XV)
1º PERÍODO: OS TROVADORES


CANTIGA DA GARVAIA

No mundo nom me sei parelha,
mentre me for como me vai;
ca ja moiro por vós, e ai!,
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia?
Mao dia me levantei,
que vos entom nom vi feia!

E, mia senhor, des aquelha,
me foi a mi mui mal di' ai!
E vós, filha de Dom Pai
Moniz, en bem vos semelha
d' haver eu por vós garvaia?
Pois eu, mia senhor, d' alfaia
nunca de vós houve nem hei
valia d'ua correia!
Paio Soares Taveiroos*






CANTIGA DA GARVAIA(adaptação livre)

No mundo não conheço outro como eu,
enquanto me acontecer como me acontece:
porque já morro por vós, e ai!,
minha senhora branca e vermelha,
quereis que vos censure
quando vos eu vi em saia? (em corpo bem feito)
Mau dia me levantei
que vos então não vi feia!

E, minha senhora, desde então,
passei muitos maus dias, ai!
E vós, filha de D. Paio
Moniz, parece-vos bem
ter eu de vós uma garvaia? (manto)
Pois eu, minha senhora, de presente
nunca de vós tive nem tenho
nem a mais pequenina coisa.

Paio Soares Taveiroos



* PAIO SOARES TAVEIROOS (ou Taveirós), trovador da primeira metade do século XIII, provinha da pequena nobreza galega. A Cantiga da Garvaia, uma cantiga de amor galhofeira, foi muito tempo considerada como sendo a primeira obra poética em galaico-português.



Jogral tocando viola de arco e jovem acompanhando com adufe (“Cancioneiro da Ajuda”, Lisboa)












AI DONA FEA! FOSTES-VOS QUEIXAR

Ai dona fea! Fostes-vos queixar
Porque vos nunca louv' en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero bar:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea! Se Deus me pardon!
E pois avedes tan gran coraçon
Que vos eu loe, en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pêro muito trobei;
Mais ora já un bon cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

João Garcia de Guilhade*

Vocabulário

Fea - feia
Trobar - poemas,trovas
Loar - louvar, cantar
Loaçon - louvor
Sandia - maluca
Toda via – porém


* JOÃO GARCIA DE GUILHADE (século XIII) trovador português, nascido em Milhazes (Barcelos), desenvolveu as suas composições poéticas em meados do século XIII. Esta cantiga da sua autoria é de Escárnio.



Falcoeiro a Cavalo e Dama(Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa)



AI FLORES, AI FLORES DO VERDE PINO

Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mh á jurado!
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san' e vivo:
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv' e sano:
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san' e vivo
e seerá vosc' ant' o prazo sa'ido:
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv' e sano
e seerá vosc' ant’ o prazo passado:
Ai Deus, e u é?



D. DINIS (1261- 1325), o Rei Trovador

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