segunda-feira, 1 de junho de 2009

"Quando Jesus nasceu", Pedro Strecht

Quando Jesus nasceu, contam que era Rei para aqueles lados um senhor muito mau, que mandava tudo torto, bebia canja de lagartixa verde e comia tripas de gato cheias de azeite velho. Além do mais, andava sempre com um cão vesgo e cabeçudo, que cada vez que ladrava fazia sair um «pum». Blagh!!! Que porcaria, nem parecia nada vida de Rei... Pois era assim mesmo, e isto era porque esse Rei que se chamava Herodes, era mau de meter medo. Tinha uma carantonha pior que uma caraça de bruxa no Carnaval, e vejam bem... era tão mal-educado que nunca lavava os dentes e tinha as unhas das mãos muito grandes, só para poder tirar macacos do nariz a toda a velocidade. Que nojo, só de pensar! E como era pequenino, porque reis assim nunca chegam a grandes, calçava sapatos de tacão mais altos que dois tijolos juntos, enfeitados com quilos de ouro, para não levantar voo com o seu inchaço soprado.

Ora, «grandes» assim também não gostam mesmo nada de pequenos, porque é como elefantes a fugirem de ratos. Ou seja, no fundo e a sério, o Rei Herodes tinha cá um medo de perder a sua importância toda, que nem vos digo! E como medos são coisas que só existem nas nossas cabeças, na do Rei havia um muito grande e que dizia assim:
“Se nascer por aí algum menino pequeno, que possa ser, um dia, mais importante do que eu, ainda deixo é de ser Rei!... Que medo!”. E do seu armário secreto de medos e sustos, este era bem o pri¬meiro que sairia, se lá fôssemos abrir uma gaveta.

Strecht, Pedro. Recados do Tempo do Menino Jesus.
Lisboa: Assírio & Alvim, 1998.

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